Não é de hoje que a nudez masculina é explorada na indústria da moda. Editoriais, campanhas e ensaios fotográficos, apresentam o corpo masculino como uma tela em branco, desprovida de erotismo, pura arte e sensualidade.
A visão destorcida da nudez na América Latina, de uma forma geral, carrega consigo uma dose excessiva de erotismo e vulgaridade. Ao longo da evolução da humanidade, a nudez é entendida como um instrumento de manifestação artística. Sem tabus ou preconceitos. Nos grandes museus europeus, que expõe as obras dos maiores escultores e pintores do velho mundo, são inúmeras as criações onde o corpo é revelado de forma natural.
A estátua kouros (“juventude”; pl. kouroi) é o mais antigo tipo de escultura monumental grega da Idade do Bronze, e este exemplo no Metropolitan Museum de Nova York é um dos primeiros.
A nudez na arte tornou-se significativa pela primeira vez na Grécia antiga. As competições atléticas nos festivais religiosos celebravam o corpo masculino como uma encarnação de tudo o que havia de melhor na humanidade. Enquanto o nu feminino era um símbolo de procriação e fertilidade, a nudez masculina era associada ao triunfo, glória e excelência moral.
Vejamos alguns dos melhores corpos masculinos da história da arte!
Atleta, cópia romana após um original de Polykleitos (fl.c.450-c.415 aC) em Pompéia (mármore) (para detalhes, ver 119500), Roman / Museo Archeologico Nazionale, Nápoles, Itália.
Thomas Eakins, Natação, 1885, Amon Carter Museum of American Art, Fort Worth, Texas, EUA.
Annibale Carracci, Bacchus, ca. 1590-91, National Museum of Capodimonte, Naples, Italy.
Caravaggio, Amor Vincit Omnia (Love Conquers All), Victorious Cupid, 1602, Gemaldegalerie SMPK, Berlin, Germany.
Anne-Louis Girodet, The Sleep of Endymion, 1791, Musée du Louvre, Paris, France.
Michelangelo, A criação de Adão, c. 1512, detalhe de afresco, Capela Sistina, Vaticano.
François-Léon Benouville, The Wrath of Achilles, 1847, National Gallery of Australia, Parkes, Australia.
Revolução de costumes: A nudez pós anos 70
Em tempos mais contemporâneos, na década de setenta, a revista Playgirl, era um projeto audacioso, já que pela primeira vez, uma publicação destinada ao público feminino, trazia fotos de modelos e atores nus. Em junho de 1973, a primeira edição da Playgirl chegou às bancas, com uma missão semelhante a da Playboy: apresentar páginas centrais nuas ao lado de recursos contundentes de e para mulheres. Na primeira capa, um homem nu (creditado como “Eldon”) estava sentado de pernas cruzadas, sua modéstia preservada pelas sombras. A edição logo se esgotou, movimentando seiscentos mil exemplares em quatro dias. No seu auge no final dos anos setenta, cada edição vendeu cerca de 1,5 milhão de cópias, mesmo sem apresentar nu frontal.
Primeira edição da revista Playgirl
Atualmente é comum ver os estilistas protagonizem suas próprias campanhas, mas em 1971, além disso não ser usual, o estilista Yves Saint Laurent, decidiu estampar uma campanha e totalmente nu, para o anúncio de YSL Pour Homme, fotografado por Jeanloup Sieff.
Em 1971, 0 estilista Yves Saint Laurent foi fotografado nu por Jeanloup Sieff, abrindo espaço para a nudez masculina no mundo da moda.
A chegada do novo milênio, trouxe grandes mudanças, e com ela, o corpo e a beleza masculina, passou a ser utilizada como elemento de campanhas e estratégias de marketing, em um espaço, até então, somente ocupado pelas modelos femininas.
A capa da edição limitada de Man About Town fotografada por Alasdair Mclellan. Fotografia: Alasdair McLellan/Man About Town.
O estilista Rick Owens abalou o mundo da moda masculina com a exposição frontal de modelos masculinos na passarela, grifes de outros estilistas, passaram a entender que a exposição do corpo possível de ser evidenciado, desde que em um contexto que não abra espaço para a erotização.
Até então, a importância das roupas era muitas vezes justificada com referência à observação de Mark Twain de que “as roupas fazem o homem”. Pessoas nuas têm pouca ou nenhuma influência na sociedade.’
Desfile de Rick Owen
Antes dessa mudança de visão nas semanas de moda internacionais, poucos teriam provavelmente desafiado essa afirmação; mas agora, parece que o homem nu está em ascensão, já que as discussões sobre o poder e a provocação, trazem novos elementos para essa discussão. Na apresentação de Rick Owen, vários modelos masculinos usavam roupas decotadas revelando seus pênis.
Em seguida, houve a Semana de Moda de Nova York, onde o modelo francês Laurent Marchand surgiu na passarela para MT Costello totalmente nu, vestindo apenas uma capa com estampa de crocodilo, com sua genitália escondida por sua mão e decorada com uma cobra dourada cravejada de joias. Quando Marchand deixou a passarela, ele fez uma pausa, deixou cair a capa e exibiu o corpo por completo.
Modelo francês Laurent Marchand surgiu na passarela para MT Costello
No Brasil, em 2008, assisti, juntamente com uma plateia que lotava a sala de desfiles da São Paulo Fashion Week, o modelo Rodrigo Rothen, abriu o desfile da Rosa Chá, tomando um banho de chuveiro, tudo isso em função do furor causado pelo modelo brasileiro Alex Schultz, que apareceu nu, ao lado de outros modelos vestidos numa campanha publicitária da grife Tom Ford. A foto foi feita pelo polêmico fotógrafo norte-americano Terry Richardson.
Rodrigo Rothen, abrindo o desfile da Rosa Chá
O brasileiro Alex Schultz, fotografado para a campanha de Tom Ford
Mister RS 2022, Cassiano Pellenz fala sobre a experiência de posar nu
Quem recentemente ganhou destaque nas redes sociais e revistas internacionais, foi o beauty artist gaúcho Cassiano Pellenz, que é o atual Mister Rio Grande do Sul 2022, e que disputará o título nacional no próximo mês de dezembro. Em ensaios fotográficos sensuais, e até mesmo onde surge totalmente nu, o modelo, que é também ator, surge com total naturalidade, e por isso, fui buscar sua opinião sobre a nudez, e de como foi essa experiência.
Cassiano Pellenz fotografado por Lh.Lord
Perguntei para Cassiano, como foi a experiência de ter sido fotografado nu, e se teve vergonha: “Não senti vergonha. Eu gostei. Acho que depois que você descobre que você é um personagem ali, fica tranquilo. Você incorpora a ideia do artista e vira um artista também. De fato, ambos precisam ser”, afirma Cassiano.
Cassiano Pellenz fotografado por Thiago Duran
Márcio Weiss – Quais mudanças em sua vida, depois disso?
Cassiano Pellenz – Foi uma mudança de mindset. De uns anos para cá que tenho me conhecido mais e prestado mais atenção nisso. Talvez eu me olhasse no espelho e não visse a realidade, ou quisesse negar o poder de sedução. Não sei se pela forma como fui criado por meus pais. Eu não queria envergonhar as pessoas que amo. Que me criaram, que me deram tanto. Então assim que as oportunidades foram surgindo nessa área, eu abracei.
Márcio Weiss – Como você lida com o assédio
Cassiano Pellenz – Depois disso com o crescimento das redes sociais e o assédio diário, propostas, comecei a ver que sim era desejado. Depois você se acostuma e continua a perguntar a si mesmo, será que as pessoas pensam que eu seja somente essa imagem? E se elas desejam, qual seria a atitude que esperam que eu tenha? Sou bem acessível. Não deixo de responder ninguém no meu Instagram. Converso com quase todos que estão ali a me acompanhar.
Cassiano Pellenz fotografado por Thiago Duran
Cassiano Pellenz fotografado por Lh.Lord
Cassiano Pellenz fotografado por Thiago Duran
Cassiano Pellenz fotografado por Vagner Carvalho