Como os bares de Rock e alternativos de Porto Alegre estão lidando com a epidemia do coronavírus e o que levou o fechamento de outros. Com mais de meio ano vivendo sob isolamento social, em comparação do velho normal, que era viver com o público para sobreviver, Loureno Gregianin Testa, mais conhecido como “Lolly” proprietário do bar Dirty Old man e Sandbox Bar Experimental, Sandro Rodrigo Macedo, dono do que fechou recentemente chamado Rock N’ Soul e o que continua aberto 7 GastroPub, e Sônia Maria Ferreira Bastos, dona do InSônia, da cidade baixa, contam a aventura que é viver em tempos de incerteza.
Com um ar de nostalgia, Lolly, contou que o nome do bar é Dirty old man, porque desde o início, havia a concepção de um bar com uma proposta que buscasse os ambientes de pubs europeus e americanos, e juntou com a ideia de uma homenagem ao escritor Bukowski, “Dirty Old Man”, é a coluna que ele escrevia para o jornal Open City. Isso despertou a curiosidade do público em conhecer o local, com a combinação de ambiente, proposta, produtos e serviços. Conforme o aumento de referências no ambiente, o que era para ser uma homenagem à Bukowski se tornou como um pub temático.
Com a chegada da pandemia, assim como nos outros bares da cidade baixa de Porto Alegre, o Dirty Old Man, localizado na Rua General Lima e Silva 956, foi fechado dia 13 de março e teve a tentativa de implementar tele-entrega e ‘pague e leve’, e o uso de diversos aplicativos, entregadores próprios, e até entrega feita de bicicleta feita pelos próprios trabalhadores do bar se fosse até 1 quilômetro de distância, além de combos, kits, e brindes ofertados. Mas a demanda não funcionou pela tipologia de serviços e produtos oferecidos. Durante a breve abertura no final de julho, o bar ficou duas semanas aberto antes do decreto que fechava novamente os bares, mas mesmo assim se manteve com poucos e até nenhum cliente durantes esses dias.
O bar reabriu final de setembro, e cumprindo as normas de distanciamento, com redução do número de pessoas por mesa e aumento do afastamento entre elas, além de fechar alguns ambientes com pouca ventilação e impedir acesso ao balcão que fica próximo à produção de coquetéis e torneiras de chope. “Com isso foi reduzido a 30% a capacidade para clientes. Mesmo assim, apenas em pequenas faixas de horário na sexta esse limite é atingido. Em média estamos a menos de 20% da entrada que teríamos sem a pandemia. ” Disse Lourenço Testa.
Lourenço Testa também é dono do bar que segue aberto, o Sandbox Bar Experimental, localizado na Rua Octávio Corrêa 84, o nome do bar veio da liberdade de experimentar coquetéis e pratos novos, sem limitações e tendências comuns, sempre com produção própria dos insumos usados. Já o Dirty Old Man, apesar da carta e cozinha autoral, segue uma linha clássica, que acolhe quem não conhece e aconchega clientes recorrentes por manter sempre uma tradição. Os mesmos meios usados no Dirty Old Man foram aplicados no SandBox Bar Experimental para driblar a pandemia, mas logo após surgiu a oportunidade de reformar o estabelecimento, que já está sendo feito.
Lolly disse que a esperança para os próximos tempos para ambos bares, acredita que seja a mesma para todos, com um controle da pandemia para que todo mundo possa se sentir bem novamente e se encontrar com amigos com segurança.
Sandro Macedo, dono do Rock N’Soul, localizado na Rua João Alfredo 555, e 7 GastroPub, na Rua Castro Alves 442, conta como foi ter que fechar o Rock N’ Soul, e a gestão do 7 GastroPub que segue em funcionamento.
Rock N’ Soul veio da vertente do Rock, que é originário do Soul, Black, Funk e Jazz, além de poder ser interpretado como “O bar alma do Rock”. Muitas pessoas, principalmente turistas, procuravam o bar por conta da temática, já que o boato de que Porto Alegre é uma das capitais que mais se nutre da vertente do Rock N’ Roll é forte, por isso surgiu a ideia de abrir um bar com essa temática. “Rock é um estilo que nunca vai morrer, e segue firme e forte, muitas pessoas realmente visitaram o bar, por conta de ser de Rock, e por simplesmente jogar no Google, bar de Rock, e o Rock N’ Soul ser o primeiro a aparecer” contou.
Antes da pandemia, estava sendo estudado uma migração do bar para outro local, porque na cidade baixa estava havendo muita briga entre moradores, bares que não respeitavam a legislação e não mantinham a clientela dentro do estabelecimento, causando balbúrdia, e principalmente os da rua João Alfredo, casualmente onde o Rock N’Soul estava localizado, sendo prejudicado mesmo respeitando as normas, tendo espaço para manter todos os clientes dentro do bar e com isolamento acústico.
O 4° distrito de Porto Alegre era a opção de mudança do bar, até chegar a pandemia e ocorrer a dificuldade em manter o aluguel da casa, e não queriam vender a marca já consagrada na cidade, “Rock N’Soul”, então a opção foi fechar momentaneamente e estudar a reabertura em outro lugar em 2021.
Para lidar com a pandemia, foi pensada uma mesma estratégia que o Dirty Old Man, o uso de delivery e ‘pague e leve’, usando a cozinha do 7 Gastro Pub, entregando o mesmo cardápio. “Os primeiros dois meses tiveram um bom retorno financeiro, como a maioria dos outros bares, mas as pessoas não tinham noção que duraria mais, com a extensão do isolamento social, não estava mais havendo retorno, e a opção foi parar com o delivery, já que era somente uma troca de dinheiro e sendo cansativo. As pessoas perderam emprego e poder de compra, assim dificultando todas classes, tanto clientes quanto trabalhadores, nem as promoções eram suficientes mais, a decisão mais sensata foi manter o Rock N’Soul fechado. ” Disse Sandro.
A diferença entre o Rock N’ Soul e o 7 Gastro Pub, é que o 7 tem um cardápio mais gourmet, uma decoração mais moderna ao invés de underground, e não é temático de Rock, e sim de filmes, por ser a sétima arte, assim sendo principalmente a referência ao número. A semelhança entre os dois bares, é que ambos só tocam bandas de Rock N’Roll, mantendo o gênero preferido e mantendo a tradição de Porto Alegre ser uma capital rockeira.
O 7 Gastro Pub, assim como o Dirty Old Man, também já reabriu dentro das medidas de segurança, e está tendo um bom retorno dos clientes.
Sônia Bastos é proprietária do bar que se tornou famoso na página do Facebook “Porto Alegre Memes”, assim muitas pessoas quiseram conhecer o bar por conta do apoio dado pela página. O InSônia, nome dado pelo amigo dela e biólogo, Francisco Silipranti, que havia dito que estava a caminho do bar “insano”, assim misturando o nome da dona com a palavra, virando também um presente inusitado do amigo. Não havia uma temática certa, apenas o intuito de incentivar a cultura, virando com o tempo um bar cultural, toda manifestação de arte era e é bem-vinda.
Com a chegada da pandemia, o bar fechou no dia 16 de março, e lidando com dificuldades vendo tantos bares próximos fechando definitivamente. O formato delivery e ‘pague e leve’ segue a disposição, mas diz que não pretende reabrir o bar, mesmo com a possibilidade de abrir dentro das normas de distanciamento, prefere manter a segurança das pessoas e a própria. O InSônia não vendia drinks, somente cervejas, sendo assim, sem uma marca preferida. Não vê reabertura do bar como antes até haver uma vacina, e nem uma solução a curto prazo, levando a uma mesma opinião dos outros proprietários, a incerteza é grande, todos foram afetados, e há apenas a grande dúvida de quando o velho normal será o normal.
